TELMA COMENTA A VOLTA À ACADEMIA E A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE
Você voltou à academia, a dar aulas, a estudar e concluiu um mestrado. Como foi este movimento?
Telma: Eu voltei a estudar após eu ter ficado como primeira suplente de deputada federal em 2006. Passou pela minha cabeça, enfim, que eu deveria parar com a política, mas é inevitável que a gente continue indo atrás dos sonhos, indo atrás das maneiras que a gente aprendeu na vida a realizar, ou pelo menos a buscá-los. Eu fiz uma seleção para uma pós na Unisantos, em Saúde Coletiva e o meu tema de dissertação de mestrado foi exatamente a implantação do SUS no município de Santos, no período de 1989 a 1986, no período das duas gestões do Partido dos Trabalhadores, a minha e a do doutor David Capistrano que tinha sido meu secretário de saúde.
E, o fazer também esta volta ao passado e compreender, à luz da teoria, os motivos do movimento sanitarista brasileiro pela construção de um ideal de saúde para todos, que é verdadeiramente o SUS, e tendo chegado à prefeitura em 1989, após a Constituição de 88 – aliás, a constituição de 88 não tinha ainda sido sancionada, tinha sido feita, votada, mas não tinha sido sancionada -, nós começamos a implantar, aqui e em Porto Alegre, o SUS, com as características que todos conhecemos. E minha dissertação é justamente A Implantação do SUS - 1989 a 1996: desafios do pioneirismo. O que quer dizer isso? A inflexão que nós tivemos no combate à AIDS e também na questão de políticas públicas absolutamente modernas e humanitárias – não há uma palavra que descreva mais –, políticas públicas de direitos do ser humano em relação à saúde mental. Eu fui buscar todas as informações, eu me debrucei até em papéis da época, em jornais, livros, muito poucos, e até em declarações minhas. E a mais interessante foi que algo que fez parte da minha vida.
Ao fazer esta dissertação eu tomei conhecimento daquilo que eu tinha feito, à luz da teoria e à luz das discussões acumuladas pelo movimento sanitarista na América Latina, pegando do México para baixo, a América Central, a América do Sul, Caribe, as expressões que Cuba tem na medicina. Este foi realmente o aprendizado maior, porque à época (quando chegou à prefeitura), evidentemente que eu tinha o bom senso de dizer: isto eu quero, isto eu não quero; as policlínicas, a saúde mental, a intervenção. Hoje eu sei exatamente quais os motivos teóricos para as práticas que nós viemos a adotar e fizemos escola, por que acabamos exportando para o mundo a luta contra a AIDS. Quando eu me tornei deputada federal, fui três vezes à ONU de Nova York e uma vez à ONU da Tailândia para falar sobre o tema. A questão da saúde mental também nos pautou internacionalmente. Lembro de ter ido fazer palestra em Gratz, que é a segunda cidade da Áustria - depois de Viena -, onde a academia me chamou para que isto pudesse ser exposto.
Estas práticas que vieram do grande movimento dos sanitaristas, em que a maioria havia sido egressa do partido comunista brasileiro, entre eles, David Capistrano, que acabou sendo meu secretário de saúde. Isto acabou fazendo parte da minha dissertação,mas o mais interessante foi a grande dificuldade em separar as memórias, do fato real, porque a memória pode ter uma pontuação afetiva ilusória que você pôs durante o tempo. A cada frase eu tinha de pensar efetivamente se aquilo foi uma política pública, uma relação colhida para se fazer política pública, ou não. Isso foi, de longe, o mais difícil.
Mas, ao mesmo tempo em que o passado se desenrolava como se fosse uma antiga fita cassete na cabeça da gente, ao mesmo tempo, fatos positivos e negativos, mais todos eles muito importantes, se desenrolaram, e hoje eu acredito que tenho um conhecimento muito potencializado a respeito daquele momento, depois dessa dissertação. Eu demorei três anos e meio. O período é de três anos. Estourei meio ano porque tive que pedir licença médica para uma cirurgia. Mas, isso não tirou em nada o brilho. Foi um exercício de força interna muito grande. Minha mestre, orientadora, doutora Amélia Kohn, e também, à época em que eu entrei, a coordenadora do curso de Saúde Coletiva, doutora Rosa Maria Pinheiro Ferrero, elas estiveram junto com o doutor Irineu Ribeiro, na banca de avaliação que foi no meio da campanha eleitoral deste ano. Eu confesso que fiquei bem nervosa, em me senti prolixa, não conseguia achar as palavras certas. Mas, enfim, eu consegui resolver esta dividida interna da minha vida e hoje eu sou mestra.
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