“Não podemos atribuir a culpa de o menor estar no tráfico somente ao traficante. Se a mãe fizer a parte dela, se tiver salário digno para sustentar sua família, o Estado criando condições para as crianças estudarem, com mais programas sociais, as coisas podem mudar devagarinho”. A avaliação é do rapper e escritor MV Bill, um dos debatedores do seminário “Políticas Públicas e Prevenção à Violência”, que acontecerá no Sesc-Santos, na próxima quarta-feira, dia 13, a partir das 19 horas, numa promoção do Instituto de Políticas Públicas para o Desenvolvimento da Baixada Santista (IBS) e pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). MV Bill, um dos realizadores do polêmico documentário “Falcão, Meninos do Tráfico” e responsável por trabalhados comunitários de inclusão social no núcleo periférico carioca Cidade de Deus, entende que hoje, em especial nas comunidades carentes, o jovem não encontra referências positivas de futuro: “Com boa educação, criaríamos novas mentalidades, perspectivas, referências. Hoje não há referências. Não adianta discurso bonito na tevê, em livros, revistas. O espelho dos jovens que estão nas comunidades é o que está mais próximo, e o que está mais próximo não é o melhor exemplo.” O artista procura ser mais explícito em sua argumentação: “O futuro do jovem na favela é estudar até onde der, parar e arranjar um emprego para ajudar pai e mãe. Se não conseguir o emprego ou não quiser trabalhar, acaba se enveredando pela vida do crime, pelo tráfico de drogas. A maioria dos jovens entra no tráfico por falta de oportunidade e porque o dinheiro vem fácil e rápido. É difícil convencer um moleque desses a parar de trabalhar no tráfico, ganhando R$ 300 ou R$ 400 por dia, e passar a trabalhar ganhando R$ 151 por mês, com direito a ônibus lotado, marmita e esporro do patrão. O crime se industrializou muito, virou empresa onde não falta muito para ter telegrama de convocação em casa, fila de inscrição para empregados, departamento pessoal e aviso prévio. Os jovens não se importam com suas vidas, são mão-de-obra barata, menos punida e mais corajosa. Pega um jovem cheio de adrenalina, coloca na mão dele um fuzil AK 47 adaptado para 90 tiros. O que se pode esperar disso?” E esse quadro, segundo o rapper, torna-se mais crítico ainda a cada dia: “O estado de miserabilidade nas comunidades é tão grande que não há como um garoto desses ganhar R$ 1 mil ou R$ 3 mil. Por R$ 10 já tem alguém disposto a fazer algo no tráfico.” A saída? Segundo MV Bill, ela existe e é conhecida de todos: “O importante seria investir em instrumentos que formam novos cidadãos: educação e informação. Mas e aí, quando isso vai começar a ser levado a sério neste país?” Outros debatedores - O seminário “Políticas Públicas e Prevenção à Violência” trará ainda como debatedores o sociólogo Hugo Acero Velásquez, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e por nove anos secretário de Segurança e Convivência de Bogotá, Colômbia; o sociólogo Sérgio Adorno, coordenador-adjunto do Núcleo de Estudos da Violência da USP, e Karla Menezes, secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da Prefeitura do Recife. Na abertura do encontro, haverá a apresentação da Banda Querô, do Instituto Arte no Dique, e no encerramento, a exibição do curta-metragem “Eu Fiz Querô”, das Oficinas Querô – Empreendedorismo e cidadania através do cinema. Serviço: Seminário “Políticas Públicas e Prevenção à Violência”, dia 13 de junho, a partir das 19 horas, no Sesc-Santos, Rua Conselheiro Ribas, 136, Bairro da Aparecida. Participação gratuita, com vagas limitadas. Inscrição prévia através do e-mail instituto.ibs@uol.com.br  ou do telefone (13) 3321-8333.