PROJETO METROPOLITANO DEVE PREVER POTENCIAL ECONÔMICO DA CULTURA
A pauta das próximas eleições municipais deve incluir, entre seus itens, projetos específicos para o aproveitamento do potencial cultural de cada município e também para o estabelecimento de uma política metropolitana na área da cultura. Ao mesmo tempo, as manifestações culturais devem ser encaradas também sob o enfoque econômico e geradoras de renda e emprego, aspecto quase sempre relegado ao descaso tantos pelos poderes públicos quanto pela iniciativa privada.
Essa foi uma das conclusões do debate “Desenvolvimento Econômico e Cultura, promovido pelo Fórum Santos Cultural e pelo Instituto de Políticas Públicas da Baixada Santista (IBS), na noite da última quinta-feira (08/11), na Livraria Realejo, em Santos. O encontro teve como convidada a presidente do IBS, ex-prefeita santista e ex-deputada federal Telma de Souza e reuniu artistas e intelectuais de várias áreas, que procuraram definir os primeiros passos no sentido de se traçar uma estratégia que estabeleça uma política metropolitana para a cultura regional, levando em conta também seu potencial de mercado.
Segundo Telma de Souza, existe “preconceito”, em especial junto a gestores públicos, “que ainda acham que cultura é despesa e, para eles, sem retorno político.” A presidente do IBS lembrou que recente levantamento do IBGE mostra que 72% dos municípios não têm gestão exclusiva para a cultura: “Há ainda uma visão de que a cultura deve ser um apêndice e por isso está sempre subordinada ou associada a outras secretarias. Isso ocorre em muitos municípios da nossa região.”
Durante o debate, foi aprovada também sugestão de Telma de que se encaminhasse convite para que um representante do Ministério da Cultura visse à região realizar uma exposição sobre os programas federais na área, fornecendo subsídios às prefeituras e entidades da Baixada Santista para a elaboração de projetos e viabilização de recursos do Governo Federal. A presidente do IBD recordou que, em 2005, enquanto deputada federal pelo PT de São Paulo, promoveu um seminário, em Santos, que reuniu técnicos de vários ministérios para exporem como as administrações municipais e ONGs poderiam se valer dos programas em cada um dos setores representados. “Naquela oportunidade, isso foi muito útil. Acredito que podemos fazer o mesmo, agora, com o foco específico na cultura”, salientou ela.
ASPECTO ECONÔMICO - Outro consenso durante o encontro foi o de que os investimentos em cultura precisam passar a ser vistos como mola propulsora da economia, gerando efeitos positivos para o desenvolvimento econômico. Países que analisam os resultados da economia da cultura, como a França, o Canadá e a Colômbia, perceberam, inclusive, que os ganhos alcançados com os recursos destinados ao setor cultural geram resultados muitas vezes mais expressivos do que os empregados em setores tradicionais da economia. E, como lembraram os debatedores, isso vale para o Poder Público, mas também para a iniciativa privada.
“Pensem o potencial da nossa cidade e da nossa região no setor cultural. Tanto do ponto de vista da cultura como expressão cultural - das mais variadas formas, de nossa gente - quanto da cultura como fator econômico. Com o crescimento do Porto, a vinda da Petrobras, o pólo universitário, a construção civil e imobiliária, pensem no futuro que poderemos trilhar. Ficamos devendo o que para Barcelona ou Buenos Aires?”, indagou Telma de Souza.
Um dos exemplos de iniciativas bem sucedidas lembrado durante o encontro foi o Festival Curta Santos. “Durante aquela semana, quanto foi gerado com o evento? A hotelaria, os bares e restaurante, os taxistas, sem contar os diretamente envolvidos com a produção, ajudantes, funcionários, empregados e os prestadores de serviço, som, vídeo, jornalistas, etc. Enfim, qual o impacto daquilo tudo? Precisamos dimensionar isso para aumentar o número de eventos e atividades como essa. E sabem o que mais me chama atenção? Que esse, assim como outros, é um trabalho feito não pelo Poder Público, mas pela sociedade, nesse caso, a Associação dos Artistas do Litoral Paulista. E poderia citar dezenas de outros exemplos, como o Arte no Dique, o Querô. Sem contar nossos empresários que fazem pela cultura e pela economia da cultura muito mais que as prefeituras. Veja o exemplo do Toninho Campos, do Roxy, ou o Zé Luiz, nosso anfitrião, aqui da Realejo Livros”, concluiu a presidente do IBS.
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