
“O Brasil é reconhecido no mundo todo por ter promovido uma mudança radical nas práticas de Saúde Mental. Somos constantemente chamados para ajudar na reforma psiquiátrica de outros países, principalmente das Américas do Sul e Central. E esse reconhecimento teve como ponto de partida o episódio da intervenção da Casa de Saúde Anchieta, em Santos”. A frase, do coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, o psiquiatra Roberto Tykanori, foi dita durante a Sessão Solene em homenagem ao Dia da Luta Antimanicomial, realizada nesta segunda-feira (19), na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Tykanori fez parte da equipe da Prefeitura de Santos quando, sob o comando da então prefeita Telma, foi decretada a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, no dia 3 de maio de 1989, quando chegou ao fim o manicômio que torturava e aprisionava centenas de pessoas com distúrbios mentais.
Autora da proposta de homenagem ao Dia da Luta Antimanicomial, comemorado dia 18 de Maio, Telma comandou a Sessão Solene. Além do episódio da Casa de Saúde Anchieta, a parlamentar lembrou, em seu discurso, outros dois acontecimentos que ficariam marcados como marcos na luta pelo fim dos manicômios no Brasil: a ‘Carta de Bauru’, elaborada em 1987, durante o 2º Congresso dos Trabalhadores em Saúde Mental, e a Lei nº 10.216, proposta pelo deputado Paulo Delgado, que viria a ser sancionada em 2001.
A chamada Lei da Reforma Psiquiátrica veio promover a regulação das internações psiquiátricas e promover mudanças estruturais no modelo assistencial oferecido aos usuários da Saúde Mental.
“O acúmulo das experiências de vida, e na própria vida pública, confirmariam, hoje, o que há 25 anos eu já sentia: acabar com a rotina de injustiças e torturas no Anchieta foi uma das experiências mais corajosas e difíceis de serem tomadas em toda a minha vida”, afirmou Telma.
Para o psicólogo Antônio Lancetti, que também atuou na intervenção na Casa de Saúde Abchieta, Santos é o ponto de partida da luta antimanicomial no Brasil “Foi a primeira cidade brasileira a acabar com os manicômios, substituindo esses leitos e fazendo acontecer a reforma psiquiátrica no País”, destacou.
Durante a homenagem, a deputada entregou placa comemorativa à presidente da Associação Franco Rotelli, de Santos, Aurélia Rios. A entidade, criada em 1191, foi um movimento dos próprios portadores em sofrimento psíquico para a construção de políticas, discussões e legislações na área. Foi assim batizada em homenagem ao psiquiatra italiano que rompeu com o modelo tradicionalista e excludente dos manicômios. “Parabéns por vocês terem mudado a história da humanidade”, disse Aurélia a Telma, Tykanori e Lancetti.