Incluída na programação das comemorações dos 47 anos de Brasília, acontecerá neste sábado (21/04) a solenidade de inscrição do nome de José Bonifácio de Andrade e Silva no Livro dos Heróis da Pátria. A cerimônia acontecerá, às 10 horas, no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes. O ato é resultado de projeto de lei apresentado pela ex-deputada e primeira suplente do PT de São Paulo Telma de Souza.       O projeto, que tramitava desde 2001 na Câmara dos Deputados, atendeu a um pedido do Movimento Pró-Memória de José Bonifácio, fundado em Santos. Embora citado com destaque em livros didáticos e até em documentários e filmes sobre o período da Independência, José Bonifácio ainda não era reconhecido oficialmente como um dos vultos da Pátria. “Omissão e injustiça que agora é reparada”, afirma Telma de Souza, autora também de outra proposta, ainda em tramitação, que institui uma semana inteira de atividades destinadas ao resgate da memória desse santista ilustre.     “A educação necessita de modelos que inspirem a mobilizem positivamente os educandos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. A Semana Nacional José Bonifácio de Andrade e Silva vai celebrar figura ímpar da história brasileira – um exemplar cidadão de ontem que, pelas suas virtudes morais e intelectuais, serve de modelo ao Brasil de hoje”, declara Tema de Souza na justificativa do novo projeto, ressaltando a participação do homenageado em episódios importantes, como a independência do país e a abolição da escravatura.   Leia abaixo artigo de Telma sobre José Bonifácio:       Um resgate de nossa história * Telma de Souza   O resgate da história só tem sentido quando nos baseamos nela para, no presente e no futuro, evitarmos os erros cometidos no passado ou nos inspirarmos nos ideais positivos que caracterizaram determinados períodos. É dessa forma que vejo a homenagem que será prestada a José Bonifácio de Andrade e Silva, com a definitiva inscrição de seu nome no Livro dos Heróis da Pátria, durante cerimônia, neste 21 de abril, no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. No caso do santista José Bonifácio, estaremos, com esse ato simbólico, não apenas dando mais um passo rumo ao seu reconhecimento como um dos homens mais importantes na história política e científica do Brasil, mas também, e principalmente, avançando na necessidade de resgate das idéias e ações que caracterizaram sua trajetória de vida. A ausência desse resgate fez, inclusive, que, como eu, muitas pessoas da minha e de outras gerações tivessem de José Bonifácio uma imagem distorcida, não raro associada a atitudes conservadoras e cuja única, embora importante, ação digna de registro fora sua colaboração para a independência do Brasil, conforme retratado na grande maioria dos livros didáticos colocados à nossa disposição. Nada mais distante da realidade, como descobriria depois. Durante meu segundo mandato na Câmara Federal, fui procurada por membros do Movimento Pró-Memória de José Bonifácio, fundado em Santos, com o objetivo de resgatar a história e as idéias desse santista e brasileiro cujos feitos eram muito mais conhecidos no exterior do que em sua cidade natal e em seu país. Apresentamos, então, em 2001, um projeto de lei propondo a inscrição de seu nome no Livro dos Heróis da Pátria, o que abriria caminho para seu reconhecimento efetivo como um dos vultos marcantes da nossa história, em nível nacional. Após longa tramitação, o projeto foi aprovado e, no dia 19 de julho de 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.135/2005, determinando a inscrição do nome de José Bonifácio de Andrade e Silva no Livro dos Heróis da Pátria, ato que será finalmente formalizado na cerimônia deste 21 de abril de 2007. Admito que foi apenas durante esse período, e graças à obstinação dos membros do Movimento Pró-Memória de José Bonifácio, que tive a oportunidade de conhecer mais profundamente suas idéias e suas lutas. Com certeza, José Bonifácio teve desempenho fundamental para a nossa independência, mas foram também muitos os outros exemplos de sua ousadia libertária, com base em posições muito à frente de seu tempo. Ele não foi somente a primeira figura de destaque na cena política de então a defender abertamente o fim da escravidão e do tráfico de escravos. Foi também pioneiro em sua condenação ao latifúndio improdutivo, propondo uma redistribuição mais equilibrada de terras, bem como chamando a atenção para a necessidade de se preservar o meio ambiente e de se fazer uma exploração racional e auto-sustentável dos recursos naturais do país, enfatizando às autoridades da época o potencial de nossas reservas minerais. Falava em respeito aos direitos dos índios e proferia discursos enérgicos contra a desigualdade social, que via como o principal obstáculo ao desenvolvimento do Brasil como uma grande nação. E foi também José Bonifácio que sugeriu, pela primeira vez, a construção de uma cidade no interior do país, para sediar a capital da nação, sonho que acabou se concretizando, muito tempo depois, com a edificação de Brasília. Poderia ficar aqui enumerando muitas outras descobertas significativas que fiz sobre os feitos e as idéias de José Bonifácio de Andrade e Silva, mas não é essa minha intenção neste espaço. Meu objetivo com estas palavras é apenas contribuir um pouco para reforçar o movimento de resgate da memória desse ilustre brasileiro, que não se negou a militar e lutar pelo que acreditava - e certamente no que ele mais acreditava era na possibilidade de o Brasil se transformar em uma nação soberana, justa e fraterna. Acho que ainda temos um longo caminho a percorrer para que esse sonho se realize. E entendo que o resgate da trajetória de José Bonifácio nos ajuda muito a continuar trilhando esse caminho. Que as próximas gerações de santistas e brasileiros tenham a oportunidade de serem informadas que José Bonifácio, o Patriarca da Independência, foi bem mais do que uma simples figura de bronze representada em um monumento numa das praças mais conhecidas de Santos, que as referências a ele nos livros de história contemplem não somente sua contribuição impar para nossa emancipação como nação, mas toda a riqueza de sua trajetória como homem público e de ciência, propagador de idéias e ideais que o colocaram quase sempre na vanguarda de seu tempo. Afinal, como dissemos, a história só tem sentido se nos servir de inspiração para o presente e para o futuro.     * Telma de Souza é ex-prefeita de Santos, deputada federal por três mandatos consecutivos e primeira suplente do PT de São Paulo à Câmara Federal.