ELEIÇÃO DE DILMA ESTÁ DENTRO DOS AVANÇOS DA SOCIEDADE IMPULSIONADOS PELO PT
Dentro da série de entrevistas Telma Especial, a deputada federal, empossada às 10h00 de hoje, em Brasília, considera a eleição de Dilma um avanço para a democracia brasileira e para a condição da mulher na sociedade. Ela relaciona este avanço às conquistas impulsionados pelo Partido dos Trabalhadores nos 30 anos de existência da sigla. Telma fala ainda sobre preconceito, machismo e o jeito feminino de governar. Confira
Qual a importância da eleição da presidente Dilma para a participação da mulher na sociedade?
Telma de Souza: A importância da eleição da Dilma é muito maior do que a questão da mulher e, na minha visão, em relação ao que ela representa. Mesmo se esta eleição tivesse sido conduzida e tivesse como candidato, um homem, isto não seria menos importante. Evidentemente que faz avançar a democracia, porque nós, mulheres, não somos ainda as principais atrizes, principais pessoas dentro do cenário político. Acredito que, como coube a mim e à Luiza Erundina, essa primazia de sermos as primeiras prefeitas mulheres do PT no sudeste e no sul, a mesma coisa está acontecendo com a Dilma, num patamar e numa relação geográfica e de influência muito maiores. Eu entendo que ela terá um olhar diferenciado do olhar masculino, é claro, e a gente já vê a indicação de alguns ministérios demonstrando isso, como a Miriam Belchior. Ela é uma espécie de Dilma da Dilma. O que a Dilma foi para o Lula, a Miriam é para a Dilma. Ela está mais que preparada, sabe do que se trata, uma pessoa com história dentro do PT, fundadora, foi mulher do Celso Daniel, prefeito assassinado de Santo André. É uma pessoa extremamente culta, informada, e muito trabalhadora. Além de outros nomes. Da mesma forma que o Barak Obama trabalhou a expressão “We can” - nós podemos -, nós também podemos. Isto – a eleição da Dilma - não trabalha só a informação política, isto trabalha a auto estima, trabalha a confiança, a estruturação interna das pessoas. E é inevitável que as mulheres saibam e elas já sabem, elas podem ser presidentes. Se a Dilma foi, porque não, outra? Isso significa: ela pode ser (presidente); ou até uma chefia em qualquer nível em que ela esteja. Isto não é explícito no discurso porque não é necessário, isto é intuitivo, é cultural; isto é um aprendizado que nós estamos fazendo na correlação de forças da sociedade. Agora, a gente também vai esperar que os homens aprendam com a nossa maneira, como um dia, aqui em Santos, eu tive que aprender como se governa. E, com se governa do ponto de vista da mulher, porque nossos modelos são sempre masculinos, a hegemonia na política é masculina. Tenho certeza de que, em termos de Brasil, vai acontecer a mesma coisa. Nós vamos aprender como que é um governo de mulher. A Revista Forbes deu a lista das pessoas mais influentes do mundo e o 14º posto é ocupado pela presidente do Brasil. Então, vamos ver estas modificações no concreto; já estão acontecendo.
Ainda existe o preconceito ou machismo na política? Você já sentiu?
Telma de Souza: Em sinto. Eu lido o tempo todo para não provocar o ciúme desnecessário num homem e até em outras mulheres, o que é mais doloroso. Agora, isto diminui. Não acabou, mas já foi pior. Por exemplo, há 20 anos, quando eu fui prefeita, e ainda mais aguçado há 30 anos,quando eu ajudei a fundar o PT, no Colégio Sion, junto com o Lula. Acredito que nestes 30 anos do PT, a gente tenha um ganho muito interessante; A gente fez avançar várias situações, não só porque a gente conquistou prefeituras, no Norte, no Leste, a Oeste; mas porque a gente ousou ser diferente, ter criatividade, porque a gente ousou com o negro, como a mulher, com o homossexual, que diz, olha, eu existo, o mundo tem que a aprender com os meus aprendizados. Eu acho que esta contribuição que o PT trouxe para a democracia. O lugar que o Brasil hoje ocupa no cenário mundial, no campo do respeito, não é pouca coisa. Estes 30 anos do PT, com todas as dores, mas também com todas as alegrias, e foram muito maiores e em maior número que as tristezas, a gente agora está vendo por um lado, a eleição de uma mulher, não quero reduzir um partido a uma ação administrativa, mas um partido também existe e se consubstancia através de um meio que é aquilo que ele tem como políticas públicas, como valores, e com princípios, que é o que a gente trouxe para o Brasil, com todas as dificuldades, com os erros, mas com todos os acertos. Ter tirado 30 milhões de pessoas da miséria e o compromisso da presidente de que isso vai continuar, isso é maravilhoso para o nosso país.
O avanço da mulher na ecomomia – provocado até pelo avanço tecnológico - é coroado com o avanço no campo político?
Telma de Souza: A economia é a princesa e a tecnologia vem nesse rol. Mas, mas só a política é rainha. Eu não estou reduzindo a política a uma eleição. A eleição é o grande espetáculo da política. A política é o dia-a-dia, a discussão de políticas públicas, a realização e a concretização no seio da sociedade, a construção da democracia. A política se faz a cada momento. Principalmente a disputa é momento de visibilidade, mas há outros momentos tão importantes quanto, embora menos barulhentos. Acho que o Brasil avança a passos largos na questão, principalmente com a estruturação e domínio da sua condição de estado. O Brasil é um estado, somos uma nação. Hoje, respeitamos as nossas origens, o território dos índios e por ai vai. Acho que nos desenvolvemos, e vou copiar o chanceler Celso Amorim, que diz: “A diplomacia brasileira tem de ser como a política brasileira, ativa e altiva. Não tratamos a Bolívia como um país qualquer e nem nos dobramos aos Estados Unidos”.
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