20/11/2006

ALGUÉM SABE COMO SÃO FEITOS JORNAIS?, por Mauri Alexandrino

  Uma pequena crítica da razão pura pela qual não se deve acreditar em jornais da grande imprensa. "Em política, uma campanha "customizada" - como se diz no jargão em voga -, ao gosto de cada freguês, é apenas a ante-sala do logro, do estelionato eleitoral."Editorial da Folha de 31 de agosto de 2006 "Em jornalismo, uma cobertura "customizada" - como se diz no jargão em voga -, ao gosto de seus principais fregueses, é apenas a ante-sala do logro, do estelionato informativo".Eu mesmo, aqui, no dia 31 de agosto de 2006 Você aí, meu caro leitor, sabe como são produzidos os jornais da grande imprensa? E as revistas nacionais? Bem, tudo começa com uma pesquisa, ou melhor, duas, uma quantitativa e outra qualitativa - esta é a razão fundamental de quase todos os grande veículos impressos terem seu próprio instituto de pesquisa atualmente.  Essas pesquisas capturam, entre seus leitores, porque a pesquisa é feita apenas entre os leitores do jornal ou da revista, a opinião geral e política sobre diversos temas, em termos percentuais. A qualitativa reune grupos de leitores para uma conversa com psicólogos sociais regiamente pagos, que extraem das conversas palavras, frases, pensamentos que configuram na prática os dados do levantamento quantitativo. Com base nesses dados o jornal ou a revista se pautam, produzem e publicam matérias ao gosto da maioria de seus leitores, usando inclusive os termos e palavras observadas nas pesquisas qualitativas. Há manuais nas redações e, não por acaso, os projetos gráficos desses grandes veículos vão engessando cada vez mais a possibilidade do repórter exprimir qualquer coisa que não seja a cartilha da casa. O principal orientador, entretanto, não são os manuais. Não seria tão singelo e objetivo quanto a algo que esses veículos pretendem guardar a sete chaves. Esse orientador básico se chama editorial. Se antes ele expressava a opinião do jornal ou da revista, hoje eles apenas expressam os desejos aferidos da maioria de seus leitores. Em todos os grandes jornais que trabalhei, mesmo numa época em que não havia tal nível de sofisticação na prospecção dos desejos dos fregueses, recebi um memorando sobre a necessidade de ler atentamente o editorial do jornal. O Estado de S. Paulo, quando passei por lá, acrescentava candidadamente no final do memorando "é leitura indispensável para que o repórter saiba em que chão está pisando". Tratava-se de uma versão menos divertida da piada em que o editor se lembra, na última hora, que no dia seguinte é sexta-feira santa e encomenda, às pressas, a um repórter uma matéria sobre Jesus Cristo. O repórter pergunta: Tenho de fazer a matéria contra ou a favor? Num resumo, os grandes jornais e revistas agem hoje exatamente como as campanhas eleitorais que não cansam de condenar. Só dizem o que os fregueses querem ouvir. Nem mais, nem menos. Posto isso, convido todos a verificarem as estratificações de dados nas pesquisas eleitorais desses mesmos institutos que pesquisam para os grandes jornais e revistas ou para quem os pague. O que se verifica é que, por exemplo, no momento, as pessoas de mais alta renda, mais escolarizados e leitoras de jornais e revistas são as que mais discordam de Lula e do PT. Quanto mais alto se subir na escala, a discordância vai se transformando num ódio viceral. É isso - e apenas isso - que vem determinando a cobertura ácida dos jornais e revistas em relação a Lula. Eles estão, literalmente, cagando para ética, moral, roubo ou a boa informação dos leitores. Querem -e apenas isso que querem - é atender a maioria de seus fregueses, procurando mantê-los "fidelizados" - como se diz no jargão atual - para que suas já combalidas tiragens não depenquem ainda mais, a ponto dos anunciantes começarem a fazer contas e verificarem que o preço por mil veiculações (que é como se calcula a relação custo-benefício de um anúncio) não vale mais a pena pagar a conta. Aí você, caro leitor esperto, poderia perguntar: E por que na televisão não acontece a mesma coisa? Acontece, sim. E com um grau ainda mais alto de eficiência. É comum haver defronte aos apresentadores de telejornais um monitor que afere a audiência em tempo real, de modo que possam espichar uma notícia com comentários ou passar direto à seguinte, tudo acontecendo ao vivo. O que difere, meus amigos, é que televisão é feito gripe, todo mundo pega. Assim, a tevê tem de calibrar sua opinião para as maiorias reais e não para a maioria de seu público, até porque, potencialmente, todos os brasileiros são parte de seu público. Por isso - e apenas por isso - ela é sempre mais moderada em relação, por exemplo, ao governo Lula. Os jornais e revistas, não. Eles não são como a gripe, eles são como as revendedoras de carros de luxo, tem de tratar com um público específico e quanto mais endinheirado, melhor. Assim caminham as coisas. Eles são espertos. Trouxa é quem lê acreditando no que lê nestes elefantes da mídia. Artigo extraído da edição de 18/19 de novembro do Jornal da Orla             

Leia também

Carta Aberta: Políticas Públicas de Acolhimento à População em Situação de Rua de Santos e Região

Ver mais

População de Rua: Instituto Telma de Souza entrega Carta Aberta ao prefeito de Santos

Ver mais

Telma de Souza relança instituto de políticas públicas e firma parceria com entidade fundada pelo Presidente Lula

Ver mais